Arte antirracista: indígenas constroem memórias, denunciam opressões e mobilizam lutas em atos de resistência

  • 19/04/2025
(Foto: Reprodução)
Neste sábado (19), quando se celebra o 'Dia dos Povos Indígenas', o g1 conversou com artistas que têm trabalhos consagrados sobre a temática. Arissana Pataxó aborda a temática indígena como parte do mundo contemporâneo Divulgação / Arte Indígena Diferentes dimensões do racismo, da colonialidade, da violência da conquista, e da vida indígena no Brasil. Essas são algumas das vertentes abordadas por uma geração de artistas indígenas baianos, que usam a arte antirracista para construir memórias, denunciar opressões e mobilizar lutas. Neste sábado (19), quando se celebra o "Dia dos Povos Indígenas", o g1 conversou com artistas indígenas que têm trabalhos consagrados no Brasil e no mundo. Nascida em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia, a artista plástica, Arissana Pataxó, de 41 anos, aborda a temática como parte do mundo contemporâneo, na produção artística. Refúgio - Arissana Pataxó João Souza/g1 Bahia Arissana Pataxó se formou no curso de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 2009. Desde então, virou referência, inclusive foi curadora da representação brasileira na Bienal de Veneza, em abril de 2024. "O racismo contra os povos indígenas não é muito é discutido. O pessoal fala discriminação, preconceito e acaba usando outros termos, né? E quando fala em racismo, as pessoas logo pensam na questão negra, né? Não fala muito, não discute essa questão nas comunidades indígenas", disse a artista plástica. Peças esculpidas por indígenas em 1559 voltam ao Brasil e remetem ao início da colonização Segundo ela, o racismo contra os povos indígenas, por muito tempo, foi discutido no campo da antropologia, nas universidades, todavia, não atingiu outros espaços. "A arte é mais uma ferramenta, mais um lugar para discussão, para que sejamos ouvidos", opinou. Alfredo Braz - Arissana Pataxó João Souza/g1 Bahia Ferramenta de resistência A artista, professora e cineasta Glicéria Tupinambá, liderança da aldeia Serra do Padeiro, na terra indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia, considera a arte indígena antirracista como uma ferramenta de resistência. "Eu a entendo como linguagem e também como ação. Não apenas uma forma de denúncia, mas um modo de afirmar mundos que resistiram e resistem ao apagamento", afirmou. Para Glicéria Tupinambá, a arte é ferramenta porque ela age, desloca, cura, provoca e transforma. "É um território onde reencantamos o que a colonialidade tentou dessacralizar. Através dela, não reagimos apenas ao racismo, propomos outras formas de vida, de política, de estética, com nossas próprias referências". Gliceria Tupinambá em encontro com o manto de seus ancestrais no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague, em 2022 Renata Cursio Valente/Setor de Etnografia e Etnologia do Departamento de Antropologia do Museu Nacional (URFJ) A artista relata que o trabalho dela nasce do território e se alimenta das "ausências forçadas", como dos 11 mantos tupinambás, produzidos entre os séculos XVI e XVII, expostos em museus da Itália, Suíça, Bélgica, França e no Rio de Janeiro, e das "presenças que persistem", como as mulheres que tecem, cantam e carregam histórias no corpo. "Não separo minha prática artística da escuta ancestral, lutas coletivas, nem da denúncia da violência histórica da colonização. Mas também não fico presa só ao trauma. Quero abrir espaço para a beleza da vida indígena, para a complexidade dos nossos mundos", pontuou. "Meus trabalhos costuram tecidos, palavras, grafismos, cantos e gestos que foram silenciados, mas nunca apagados. E, mais do que denúncia, também são formas de diplomacia — modos de reconstruir relação com o que foi rompido, de criar caminhos entre mundos". Vencedora do Prêmio PIPA em 2023, Glicéria comandou a comitiva brasileira na Bienal de Veneza, no ano passado. "Foi um momento histórico. Estar à frente da comitiva foi carregar muitos passos antes dos meus, muitas lutas que abriram caminho. Não fui sozinha. Fomos em coletivo, com as vozes de várias lideranças, artistas, mestres e mestras do saber", relembrou a artista. Manto Tupinambá: Comitiva indígena da Bahia embarcou para celebração do item sagrado no Rio de Janeiro Manto tupinambá feito por Glicélia Tupinambá João Souza/g1 Bahia O documentário “Eu Ouvi o Chamado: Retornos dos Mantos Tupinambá”, protagonizado por Glicéria e pela atriz Jéssica Tupinambá, foi selecionado para passar no Festival de Cannes, em maio deste ano. "Esse filme nasce do nosso encontro com os ancestrais presentes em coleções europeias, especialmente os mantos tupinambás. É um chamado que ecoa dos museus, mas também das matas, dos cantos, das mãos que tecem. Um gesto de retorno — dos objetos, dos corpos, das vozes — que reconstrói caminhos rompidos pela colonização", disse. "Estar em Cannes é mais do que levar um filme. É uma oportunidade real de fazer a diplomacia dos povos indígenas ressoar em um dos maiores palcos do audiovisual mundial. Queremos estar lá inteiras, com nossos corpos, nossas vozes e nossas histórias". 'Luta de corpos silenciados' Mestiço - Ezequiel Tuxá João Souza/g1 Bahia A arte indígena antirracista é entendida pelo artista, psicólogo, escritor e pesquisador Ezequiel Vitor Tuxá como um ato de memória, denúncia, mas respiro. Nascido na Aldeia Tuxá Kiniopará, em Ibotirama, no oeste do estado, ele fotografa, escreve, faz colagens, pinta e pesquisa formas de romper o silenciamento. "Não é só estética, a arte antirracista necessita ser território, luta e confronto. Nasce da luta de corpos que foram historicamente silenciados", comentou. Vitor Tuxá afirma que as peças não se reduzem a representação do exótico, do folclórico, ao contrário, desmantela estereótipos, descoloniza narrativas e exige que as pessoas reflitam. "Meu trabalho não separa estética de política", reforça. Hãhãw: uma exposição de arte antirracista Série Pataxó: uma era de resistência - Arissana Pataxó João Souza/g1 Bahia Arissana Pataxó, Glicéria Tupinambá e Vitor Tuxá são alguns dos artistas indígenas que fazem parte do projeto de pesquisas Culturas de Antirracismo na America Latina (CARLA), em rede com a Universidade de Manchester, no Reino Unido, a Universidade Nacional da Colômbia e a Universidade Nacional de San Martín, na Argentina. Do projeto, nasceu a exposição "Hãhãw é terra e território, na língua Patxohã: é o lugar da vida dos povos originários", que conta com 12 artistas indígenas, além de duas estudantes da Ufba que integram a rede internacional. Evento com exposições, debates e mostra de cinema discutiu arte indígena antirracista em Salvador A curadoria das obras foi realizada de forma coletiva pelos artistas pesquisadores e pela equipe do projeto, de maneira a construir uma visão dialogada sobre a dimensão antirracista das manifestações estéticas indígenas. Exibida pela primeira vez no Museu de Arte Sacra da Bahia, em novembro de 2022, a exposição seguiu em itinerância pelas comunidades de origem dos artistas e espaços culturais nacionais a partir de janeiro de 2023. Hoje é dia dos povos indígenas Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻

FONTE: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2025/04/19/arte-antirracista-indigenas-constroem-memorias-denunciam-opressoes-e-mobilizam-lutas-em-atos-de-resistencia.ghtml


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